domingo, 31 de maio de 2015

Histórias Estranhas da Bíblia: Jó e a Tragédia que Virou Poema


Não é incomum ouvir:
"Fulano tem paciência de Jó."
Ao falarmos de alguém que possua uma paciência fora do comum.
Mas a alusão sobre a paciência ao livro veterotestamentário não condiz com o que está escrito na história sofrida e inacreditável do personagem bíblico.
Não há evidências que comprovem a época, nem a veracidade dos eventos do livro de Jó, tornando impossível a datação dos acontecimentos ali descritos. Tanto que rabinos ( mestres judeus), tanto quanto teólogos modernos procuram interpretar seu livro mais como uma poesia épica, como a epopéia de Gilgamesh por exemplo, do que como fatos reais.
O livro de Jó aborda a história do personagem, que dá nome ao título, como sendo altamente fiel a Deus, mesmo nas mais desesperadoras situações.
O relato começa quando os filhos de Deus vem apresentar-se diante de Dele e com eles satanás. Deus inicia uma conversa com satanás e diz que não há justo na terra como Jó. O acusador duvida e acha que se este sofrer blasfemará contra o criador.
É aí que a coisa fica estranha.
Deus dá plenos poderes para que o acusador retire todas as coisas do pobre Jó e que, tão somente, não lhe toque.
Que coisa estranha! Deus não é onisciente? Ele não sabe todas as coisas? Então ele sabe que Jó seria fiel todo o tempo? A quem ele quer provar algo aqui?
E mais: dar autorização a satã para que tome tudo de Jó? Como é que é isso?




Jó então perde tudo:
Ovelhas, camelos, servos e até os filhos.
Mas não "blasfema" contra Deus.
Satã volta ao criador e interpela que se Jó adoecer ele blasfemará. Deus, novamente, dá a satanás o poder, desta vez, de tocá-lo com doenças.
Agora vamos parar um pouco para pensar.
Jó estava quieto em sua vida pacata, era temente a Deus e não praticava o mal.
Simplesmente por sugestão do acusador Deus resolveu testar a fé do pobre homem?
Já aventei aqui a questão da onisciência então não vou me repetir.
O homem da noite para o dia perde tudo:
filhos, posses e animais. Tudo o que o povo hebreu prezava, por isso fazia diferença para eles. Mas e o dano psicológico para Jó?
Você, caro leitor, que já perdeu um irmão sabe como é difícil e árduo. Imagine Jó!
Perdeu na mesma hora TODA sua família, a excessão da esposa, que morreria depois também, por nada. O único crime que ele cometeu foi estar ali e ser quem era.
Pensando na lógica do plano divino Jó nem era mesmo, de si próprio, justo como diz o livro. Ele estava a serviço de Deus, sua "retidão" e temência a Deus nem eram vontade sua, livre arbítrio infligido novamente, era só para Deus, mais tarde comprovar seu inefável poder.




Aí os cristãos vão alegar que Deus queria demonstrar, com a história de Jó, como um homem pode ser fiel a Deus. Mas nesta pataquada, gente que nada tinha haver com o fato MORREU! Outra vez Deus infligindo o livre arbítrio. Os servos e filhos de Jó morreram de graça, sem nenhuma necessidade e, o pior, com a autorização de Deus.
Estamos acostumados a ver a bíblia como um livro poético e lírico. Enquanto ele esta repleto de atrocidades e maldades inomináveis, causadas, antes de tudo, por personagens que estão a serviço de Deus.
O livro de Jó termina dizendo que ele teve o dobro daquilo que tinha antes, inclusive outra familia, outros filhos.
Mas e o dano psicológico?
Imagine, amigo leitor, que sua família inteira morra em um acidente veicular, para demonstrar o poder de Deus, e depois outra família lhe seja entregue.
Mas e os que morreram? A lembrança deles vai se esvair assim do nada?
Sua esposa, seus pais e filhos, substituídos assim simplesmente? Psicologicamente é um baque.
Esta alegoria, este poema épico, talvez encontre anelos na crença da sociedade da época, sua barbárie e falta de bom senso, talvez se aplique ao pensamento daquele período. Mas procurar exemplos, para nossos dias, em uma obra como essa só demonstra o quão atrasada está uma grande parte da humanidade.
O quão mesquinhos e individualistas nós somos. Incapazes de pensar no sofrimento alheio.
O autor do livro de Jó com toda certeza estava escrevendo para seus contemporâneos, pois usa linguagem comum à época, ou seja, evocando o quão Yaveh era poderoso, lembrando que todos devemos ter medo de seu poder e que ele faz e desfaz ao seu bel prazer (difere em algo dos deuses gregos que aprontavam como crianças desvairadas?).
Realmente o livro traz uma história tocante, e ao mesmo tempo perversa, sobre a subserviência de Jó. E mostra mais uma vez que Yaveh, ou Jeová, que nós chamamos simplesmente de Deus hoje em dia, era um no velho testamento, outro no novo testamento e outro completamente diferente nos dias atuais.
Sim! Pergunte a um cristão de 20 anos atrás que concepção ele possuía de Deus, e faça mesma pergunta a um cristão de hoje.
Não se espante se a resposta for totalmente inversa.
E qual a razão disso?
Somos nós que mudamos as características de Deus, conforme vamos mudando nossa maneira de ver o mundo, vai mudando também nossa visão de quem e o que é Ele.
Muitos batem palmas para a paciência de Jó em esperar que Deus lhe restituísse tudo o que Ele mesmo permitiu que lhe fosse tirado, mas ninguém pensa no homem, na dor, no sofrimento, no desespero e principalmente no dano psicológico que o mítico personagem sofreu, se é que sua história ocorreu.
Não consigo imaginar um Deus que permite o sofrimento de um homem apenas para contrariar seu velho inimigo, infligindo seu livre arbítrio, deturpando-lhe a existência e destruindo-o psicologicamente.
E você caro leitor? Você consegue imaginar um Deus assim?



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